7 de abr. de 2011

Coco & Igor

De história forte e humores arraigados, Coco Chanel é uma personagem cinematográfica por excelência. Tanto que foi alvo de três cinebiografias distintas nos últimos dois anos.


Em  Coco antes de Chanel, o mais pop e meloso da "trilogia chaneliana", dirigido por Anne Fontaine e com Audrey Tautou no papel principal, a história gira ao redor dos anos pré-fama da estilista.
Mas é neste Coco Chanel & Igor Stravinsky, dirigido pelo belga Jan Kounen, que a personagem se sobressai de verdade - em interesses biográficos e cinematográficos.



Como o título denuncia, Coco Chanel & Igor Stravinsky foca no relacionamento da francesa com o compositor russo Igor Stravinsky - então exilado na França por conta da Revolução Russa e ainda afamado pelo escândalo que fora a primeira montagem de A Sagração da Primavera em Paris. A reencenação do balé, aliás, pode ser considerado um dos pontos altos do filme.


Igor Stravinsky

Admiradora de Stravinsky, a mecenas Chanel convida o russo e sua família para um retiro em um château fora de Paris. É aí que o filme sai da história para entrar no campo das suposições alimentadas pelo livro original. Rezam as lendas da alta sociedade da época que o interesse da estilista era maior no compositor do que nas composições, e que o casal teria alimentado um romance durante essa temporada.
A maior parte do enredo é dedicado ao relacionamento conturbado entre os dois artistas, com família e criações espremidas entre uma e outra cena tórrida. E é aí que Kounen constrói o filme maduro que a personagem merece.





Coco Chanel & Igor Stravisnky tem tudo o que Coco Antes de Chanel não tem. É sexy e real, forte e poético, sabe se contar mais através das entrelinhas do que via diálogos didáticos.
A francesa e o russo eram figuras semelhantes e complementares. Polêmicos, talentosos e arrogantes na medida. Ela, colecionadora de homens poderosos, manipulava a todos. Ele, bronco por outro lado, desdenhava a moda de Chanel como um ofício não artístico.




O embate é inevitável e dá abertura ao jogo de olhares e sensações entre a bela francesa Anna Mouglalis e o ótimo dinamarquês Mads Mikkelsen (lembre-se dele como Le Chiffre, o Bond-vilão de Casino Royale).

È interessante ver como uma mesma mulher pode encarnar Simone de Beauvoir e Coco Chanel. É preciso ter força e singularidade, ser sofisticada e plural. Esta é Anna Mouglalis: atriz francesa, além de ser musa de Karl Lagerfeld, acaba de fazer um filme sobre a estilista que revolucionou a moda do século XX.


Quando questionada sobre Simone e Coco, Anna é pontual:  “Ambas ajudaram, cada uma do seu jeito, a liberar as mulheres.” Concordamos com essa afirmação...

 



Enquanto isso, segundo a teoria do enredo, o affair libera o potencial criativo dos dois. Stravinsky passa a compor com estilo mais desanuviado e Chanel larga o luto (do seu falecido amante anterior, Boy Capel) e cria finalmente seu icônico perfume Chanel n. 5 (sequência sensacional para os chanelmaníacos).
Mais do que justo à personagem ou historicamente correto, Coco Chanel & Igor Stravinsky é um filme tenso. Em relações humanas e personas poderosas e cínicas. Tipo vida real.






*Eduardo Viveiro - Omelete






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